ELVIS FASHION: FROM MEMPHIS TO VEGAS

AUTOR: GUY TREBAY (NEW YORK TIMES) - TRADUÇÃO: JACQUIE ULMO

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  • Matéria que saiu na New York Times em 19/11 sobre o livro que será lançado no final de 2003. Este livro aborda o "estilo" de Elvis! A matéria foi escrita por Guy Trebay.

ELVIS FASHION: FROM MEMPHIS TO VEGAS”–lançamento previsto Dez/03

  • Escondidas por anos e anos em Graceland, finalmente as roupas de Elvis “Have Left The Building” – e deixam os armários e depósitos...
    Por: Guy Trebay (New York Times) – 19 de novembro de 2003

    

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  • Os fãs aos prantos e multidões aos gritos parecem hoje um universo longe do silêncio predominante em Graceland. O gênio musical nascido em uma humilde casa de dois cômodos em Tupelo, Mississipi faleceu de uma maneira sórdida, em meio aos destroços de sua própria fama global. O homem que o público conhece tem uma imagem muita bem trabalhada. O ser humano por trás desta imagem permanece de alguma maneira como um “fugitivo”. Sua presença pode ser fortemente sentida aqui em uma espécie de depósito para armazenagem que fica próximo a Graceland - seu eterno lar e santuário - aonde se sente no ar o aroma de “musk” e ao que se sabe, os documentos de uma vida excepcional se encontram guardados. Dentre quase um milhão de artefatos de Elvis na coleção que permanece em Graceland, 6.000 itens são artigos de roupa. No padrão da boa costura e com extravagantes ornamentos, padrões opulentos e a frugalidade da armazenagem genérica de bens, uma outra parte do mito “Elvis” pôde ser discernida. Ele tinha pés grandes, por exemplo, e até quase o fim de sua vida, a cintura estreita de um adolescente. Ele tinha ombros largos e bem alinhados e um formato de cabeça perfeitamente proporcional à sua altura.Que Elvis gostava de boas roupas e tinha seu próprio estilo, é um fato conhecido por qualquer um que tenha sido remotamente familiar com o mito.

  • Desde sua morte em 16 de agosto de 1977, o legado de Elvis Aaron Presley como fator determinante da cultura americana e como um ícone mundial foi injustamente diminuído (mas anos depois, foi reconhecido e recolocado de volta como um dos mais importantes legados já existentes na humanidade) em detrimento de outros fatores como se ele tivesse apenas sido a “piada em forma de lantejoulas”, um homem inchado, drogado e que só se apresentava com laquê ou gel no cabelo pintado de preto – escondido por trás de uma barricada fabricada por sua própria celebridade, fama e envolto por sua própria sombra. Assim como em outros assuntos acerca de Elvis, a realidade tende a ser sutilmente modificada e bem mais complexa do que se imagina. Depois de décadas guardadas em Graceland, sabe-se que uma relevante fração de seu guarda-roupa jamais foi exibida pela EPE.Agora, as roupas de Elvis serão conhecidas pelo público na íntegra através do livro ELVIS FASHION: FROM MEMPHIS TO VEGAS, cuja publicação se espera para o início de dezembro/2003 pela Universe Publishing. O livro marca uma mudança na forma de ver tanto o culto como a cultura de Elvis, abrindo seus armários e arquivos, para revelar aspectos inesperados de um homem sobre quem é fácil sentir que tudo isso, no fundo já é conhecido."Por anos, a Elvis Presley Enterprises teve uma mentalidade de  “fortaleza” em tudo que se referia a Elvis Presley - disse John Strausbaugh, autor de "E: Reflexões sobre o nascimento da fé de Elvis”.

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  • Por trás do zelo sempre estrategicamente medido para proteger a imagem de Elvis, os administradores de seu espólio podem de forma inadvertida ter bloqueado o acesso a esta parte da memória de Elvis dentro de uma concepção totalmente errada. O Elvis extravagante dos “jumpsuits” era somente um personagem. Existiam outros e até mais radicais “Elvises”. Estes “Elvises”, se não alteraram até agora certos gostos e hábitos tipicamente americanos, serão capazes de implementar importantes tendências culturais e espera-se que as mesmas se instalem nos próximos 30 anos."Um dos modos realmente importantes como ele influenciou a moda éque ele comprou suas roupas na Lansky´s" explica Ann Powers, a curadora do evento “Experience Music Project” em Seattle, referindo-se ao armarinho (Lansky´s) como um marco em Memphis na década de 1950 preponderantemente voltado à clientela negra. Ela ainda complementa dizendo que “Elvis era um homem branco que se vestia como os negros”, da mesma forma que ele era um homem branco adaptando a música negra ao seu próprio estilo.

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  • Além disto, ele era um homem excêntrico e extraordinário por ser um branco que escolheu por conta própria o mais extravagante que havia no quesito artigos de vestuário. Sra Powers sugere ainda que Elvis não só ignorou propositalmente os códigos de vestimenta que caracterizavam a segregação racial na época, como transitou livremente através dos limites dos sexos. Não eram apenas os quadris de Elvis rodando, mas também suas roupas rosas, sua calça comprida volumosa e seu olhar fulminante - que os críticos não hesitaram em “clamar pela evidência do poder que Elvis tinha para destruir a moralidade da juventude americana”."Nós fazíamos muitos negócios étnicos naqueles tempos, e nos negócios étnicos nós fomos em direção da alta moda com angorás, sedas e lãs, as cores púrpuras, os “chartreuses” e o ouro lamé," recorda Bernard J. Lansky, o proprietário de loja, que tem 77 anos. Foi o Sr Lansky que vendeu a Elvis a famosa jaqueta de ouro lamé em 1956, pela impressionante soma de $125. "Elvis estava trabalhando como porteiro de cinema e em suas folgas ele costumava andar pelas igrejas gospel ao redor da cidade para ver como as pessoas ligadas ao gospel se vestiam", Sr. Lansky relembra. "Ele gostou do modo como eles se vestiam. Ele sabia o que estava acontecendo. Ele tinha bom gosto”. De fato, o designer de moda Tommy Hilfiger disse que “Elvis era o primeiro menino branco que realmente se vestia de modo “excêntrico” e exagerado. Ele foi um dos primeiros artistas de qualquer raça a visualizar ele mesmo como sendo muito sensual e Masculino". Com os seus cabelos e sobrancelhas escurecidos (a cor natural era castanho claro), seus movimentos insinuantes e seus olhos caídos de forma tão sexy, quase que por instinto Elvis conseguia “manipular símbolos” e ser um precursor da celebridade moderna: o progenitor de uma imagem cujo período de vida vem se estendendo por gerações ligadas em sua música.

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  • Essas gerações até hoje fazem um poético passeio casual pelas costeletas e as nuances de sua cintura para baixo... "Dos primeiros retratos você pode ver ele fazendo transformações em si mesmo, e escolhendo o visual de melhor bom gosto que ele podia achar, Sr. Strausbaugh disse. "Ele tinha completa noção até um certo ponto - ainda que fosse apenas intuitivamente – sobre as necessidades artísticas e a de manipular a imagem e que aquelas roupas tinham muito a ver com isto."Ajudou bastante, claro, o fato que desde o início Elvis sempre amou roupas. "Meu passatempo favorito é colecionar estas roupas tão bacanas” Elvis disse uma vez a um repórter.É “Elvis, O Mito de uma vida inteira”, que foi recuperado há 10 anos atrás do quarto de guarda-roupas em Graceland, na verdade um quarto convertido no segundo andar, que é fechado para o público, ajustado com armários de cedro e prateleiras de sapato forradas e decorado com uma cama de casulo feito em pele falsificada (Elvis era contra o uso de peles de animais) com caixas stéreo nas laterais.Esta cama foi primeiramente para o depósito de armazenagem, mas agora está em exibição no quarto que pertenceu aos seus pais no 1º andar da casa, adjacente a celebradíssima “Jungle Room” com sua mobília da Polinésia tendo chão e teto, impecavelmente atapetados. As roupas, inclusive com as meias combinando, foram fotografadas, entraram em um banco de dados e foram removidas para um arquivo em Graceland e seu local se mantém secreto, para proteger uma coleção cujo valor de mercado é inestimável. "Elvis sempre é sucesso em leilões" disse Margaret Barrett, chefe do departamento de artes populares da Christie´s, que vendeu uma única camisa de Elvis por US$ 29.000 em 1999. Os “jumpsuits”, Sra Barrett diz, atingiram o patamar de até US$ 150.000 cada. "O que estas pessoas mais gostam é ser capaz de dizer que Elvis realmente vestiu esta peça em seu corpo".

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  • Vários detalhes foram anotados dos arquivos que Julie Mundy - alguns verdadeiros tesouros desconhecidos - visitou Graceland para elaborar pesquisas para o seu livro. "Não existe muita coisa arquivada referente ao início da carreira de Elvis, no início dos anos 50, disse Sra Mundy, referindo-se às camisas rosas, fraques de lamé, calças compridas que eram exageradamente folgadas a princípio e pouco tempo depois, exageradamente justas. Uma razão para isto é que o empresário de Elvis, Coronel Tom Parker, cortou em muitos pedaços várias destas primeiras roupas para incluí-las como recordações em um estojo com quatro discos contendo os big hits de Elvis dos anos 50 e que foi lançado em agosto de 1971. Foi colocado um envelope dentro de cada estojo contendo um pedaço destas roupas que foram cortadas" disse Todd Morgan, Diretor de Marketing em Graceland. "Desta forma muito do que se refere a aquela época foi perdido. Quem sabe de fato quanto do todo que estava em seu armário quando eles juntaram isto”? À medida que Elvis foi prosperando, seus gostos também mudaram: o “look rockabilly” radical que ele usava nos anos 50 foi substituído por roupas mais conservadoras ou tipicamente country no estilo anos 60.As “roupas cafonas” que Edith Head desenhou para os filmes de Elvis nos anos 50 e boa parte dos anos 60 deram lugar aos extravagantes “jumpsuits” com capas de colarinhos, roupas de couro trabalhado e todo o resplendor que ele de fato exalava, quando retomou a carreira de shows e concertos. "Eles têm absolutamente tudo" Sra Mundy observou em sua visita aos arquivos de Graceland. Em apenas uma visita por lá você pode confirmar a existência de um tesouro repleto de roupas country por exemplo, como chapéus de pele (falsificada)e botas de couro de grife; cintos feitos com conchas; joggings esportivos e roupas de karatê; lenços de Hermes e “jumpsuits” com gabardine, feitos pelas pessoas que confeccionaram o famoso “jumpsuit” “Ice Capades”. Existem também shorts para prática de esportes e fraques de colarinho (“tuxedo”), bem como pijamas da mais pura seda; cuecas tipo “samba-calção” e as de design padrão, comprados aos montes pelo próprio Presley nos arredores da Sears em Memphis. E existem vários trajes cujos estilos foram feitos pelo alfaiate Sy Devore, bem como roupas projetadas para Elvis pelo costureiro de Las Vegas, Sr Bill Belew – cujo estilo é o de quem jamais olharia para uma vitrine “Gucci”, por exemplo. Seu estilo era o de trajes macios e lustrosos e com os forros em seda moldados, acrescentando-se o detalhe dos furos de botões notavelmente cortados e cerzidos à mão."

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  • Ao partir, Elvis deixou para trás uma casa, jatos, carros e motos que muitas pessoas têm visto, de todas as partes do mundo - disse Sra. Mundy, referindo a Graceland. Mesmo após a crise no turismo provocada pelo 11 de setembro (Atentado ao WTC-NY), Graceland consegue mais de 600,000 visitantes por ano. Elvis também deixou para trás vários álbuns que documentam seus concertos e seus filmes. Mas estes são apenas registros parciais do surpreendente estilo de Elvis. "As pessoas pensam que já viram tudo que tinha para ser visto, ou uma boa parte disto" disse Angie Marchese, Gerente de coleções em Graceland. Mas o retrato que a maior parte de nós temos em mente, da forma como vimos até hoje, corresponde à um pouco mais que uma foto instantânea.“Nós temos até botas de montar do Elvis com a sujeira de barro ainda cravada nelas, disse Sra Marchese, abrindo uma caixa para exibir um par empoeirado e protegido por um pano limpo. As botas, disse ela, tinham sido recentemente solicitadas por um Museu Country para uma amostra sobre calçados para cowbói; Contudo, o curador do Museu empacou quando ele tomou conhecimento que as botas não poderiam ser limpas de maneira alguma, por motivo nenhum”. "Nossa atitude é, se Elvis tocou isto, isto tem que ficar do modo que ele deixou - Sra. Marchese disse”. O curador não quis a responsabilidade”. Com uma luva branca em cada mão, Sra Marchese cuidadosamente segurou por cima, uma bota suja pelo solo agrário do Tennessee. "Isto é lama de Elvis", complementou Sra Marchese.Este livro promete ser imperdível para todo colecionador ávido por cada detalhe da vida do maior astro da música de todos os tempos.