ELVIS EM TURNÊ

por: Nilson Calasans

 

ELVIS EM TURNÊ
* LONGA VIDA AO REI! *
 

Nilson Calasans *

 
Modernamente, profissionais de propaganda e marketing sustentam a idéia de que o sucesso de um produto está diretamente relacionado ao atendimento que faz ao perfil e à demanda de seu público-alvo.
 Por esse viés, penso, o excelente livro ELVIS EM TURNÊ, organizado triunfalmente pelo empenho idealista de WALDENIR AUGUSTO CECON, deve ser olhado.
 Destina-se, principalmente, aos fãs brasileiros mais exuberantes e exaltados em suas devoções; mormente àqueles cerceados do uso mais sofisticado da Internet, desprovidos de banda e/ou com limitações idiomáticas.
Estes encontrarão, através de um trabalho hercúleo e admirável de pesquisa quantitativa, dados sobejamente disponibilizados na rede; mas, até então, inéditos do Brasil em publicações convencionais. Você se embevecerá com a riqueza de detalhes!
 Cada um dos 394 (mega) espetáculos realizados por PRESLEY entre 1970 e 1977, por cidades norte-americanas, EM TURNÊ, se encontra descrito, em pormenores: dia, hora, local, vestuário, roteiro, equipe, hospedagem, transporte, aspectos técnicos, desdobramentos audiovisuais; além de interlocuções biográficas muito breves, para além das aparências performáticas, são postas de maneira obsessivamente notável.
 Se, no universo do ROCK, como discorrem os estudiosos, prevalecem os significantes sobre os significados, o visual ao áudio; no denominado MUNDO DE ELVIS, o vínculo de seus fãs mais fervorosos com o mito, caracteriza-se exatamente por uma gama complexa e delicada  de significantes, verdadeira trama de aspectos bastante subjetivos e de compreensão nada ululante e simples.
 Pois estes aspectos são perspicazmente explorados pelo autor em seu livro, onde, então, quantidade será sinônimo irrefutável e indiscutível de qualidade; onde números e cifras elevados falarão de verdades absolutas; onde o grande, a qualquer preço, será o melhor e onde, mais do que nunca, as aparências jamais enganarão. E no cerne da miragem cativante e inebriante, nosso ELVIS - enormemente virtuoso, é certo -, estará sempre colocado à beira de um patamar supremo e divino; um estatuto quase sobre-humano, do qual, ao meu olhar veterano, definitivamente, seus fãs não são capazes de prescindir, em suas buscas, talvez inconscientes, por um super-herói; amigo, irmão, pai ou companheiro ideal e idealizado. Assim opera a gênese do ídolo.
 Naturalmente, refutou-se todo e qualquer dado ou argumento que, em qualquer tempo, pudesse relativizar ELVIS em sua supremacia e perfeição absoluta. Esforços não foram medidos no sentido de preservar e enaltecer o MITO. E eis o grande acerto do belo livro, em forma e conteúdo: ser fiel ao público - conservador e crédulo -  ao qual se destina.
 CECON não é tolo e/ou ingênuo e, em suas primeiras páginas - para ser preciso, na p. 42 -, no terceiro parágrafo, ao discorrer sobre um episódio particular envolvendo Parker (que não lhes contarei, naturalmente, para não estragar-lhes a obrigatória leitura), demonstra, com invulgar competência e sutileza, seu grande conhecimento da realidade e da alma humana; das concessões que a vida nos obriga quando se lida com multidões, com o público; quer como artista ou autor. Parabéns ao ardiloso escritor!
 Os leitores mais maduros e sensíveis, nas entrelinhas, lerão informações preciosas. Farão articulações entre citações e dados biográficos sobejamente explorados, cronologicamente. Sentirão o constrangimento de ELVIS, em Houston (1974), quando Parker e Vernon cruzam o estádio, em verdade desrespeitosa e onipotentemente, durante o mega-espetáculo, com uma mula (Elvis possivelmente gargalha para não chorar!); assim como perceberão as raras presenças de Parker em shows, em momentos cruciais da vida do protagonista e, se hábeis, bem-informados e inteligentes, poderão proceder uma leitura profícua e tirar proveito analítico dos dados tecnicamente apresentados.
 O ótimo livro também traz um instrumento imprescindível aos chamados fanelvis: fotos, belas e raras. O público de ELVIS é tão capturado pela sua imagem quanto pela sua arte. Ou mais.
 Particularmente, continuo a torcer, para que, no futuro, consigamos suportar aspectos biográficos insistentes e óbvios, já fartamente dispostos em vasta literatura sobre ELVIS que, entretanto, continuamos a refutar; para que, finalmente, um dia, as pessoas competentes do cinema - que existem, não nos iludamos -, possam presentear, não apenas fãs, mas o grande público "leigo", com uma película sobre ELVIS, adulta, interessante, verossímil. Como recentemente o fizeram com CHARLES e CASH. O impasse é delicado: não há com realizar um filme sério sobre ELVIS PRESLEY em forma de conto-de-fadas e, um filme, contundente, verídico, seu público parece não suportar, em sua busca infinita de um ser que jamais existiu ou existirá. Além disso, imploda-se o ser idealizado e perderão dezenas de milhões de dólares anualmente...
 Assim sendo, continua valendo a máxima de Parker, quando da conclusão da soundtrack de HARUM SCARUM: 
"- Coronel, esta mixagem e equalização são de péssima qualidade, esse disco é, tecnicamente, a pior coisa que já ouvi"! - alguém argumentou no estúdio.
 Ao que replicou Parker:
 " - Para quem se destina, está ótimo. Caprichem nas fotos!"
 Finalmente, agradeço enormemente a deferência prefacial; um reconhecimento raro e pertinente, neste momento em que ELVIS completa quatro décadas em minha vida.
 LONGA VIDA AO REI!
 * Fã desde 1966 e associado à GANG´ELVIS desde 1973, o autor fundou e dirigiu o GRUPO-INFORMATIVO THE PELVIS entre 1973/79. www.periodontum.hpgvip.com.br.