Elvis Presley e o Cinema Musical de Hollywood 

AUTOR: JORGE CARREGA

Elvis Presley e o Cinema Musical de Hollywood 

Por Jorge Carrega

Parte I: O Rei do Rock and Roll - Os Filmes dos Anos 50

Em Janeiro de 1956 Elvis Presley tornou-se o cantor mais polémico dos EUA. Nos meses que se seguiram Elvis fez diversas aparições televisivas. Hall Wallis um dos principais produtores cinematográficos de Hollywood, responsável pelas carreiras de Burt Lancaster, Charlton Heston e da dupla Martin e Lewis, foi um dos muitos espectadores americanos que ficaram surpreendidos com o carisma de Elvis perante as câmaras, oferecendo um contrato à nova sensação musical dos EUA.

Imediatamente o famoso produtor encarregou Hal Walker de desenvolver o argumento de um filme concebido especialmente para Elvis.

Mas enquanto o argumento de Loving You não se concretizava, Wallis cedeu Elvis ao produtor David Weisbart, que havia trabalhado recentemente com James Dean em Rebel Without a Cause, para protagonizar um western intitulado The Reno Brothers, um drama familiar sobre o Pós - Guerra Civil Americana.

Inteligentemente a Twentieth Century Fox decidiu capitalizar na popularidade de Elvis e adaptou o argumento de Reno Brothers de modo a incluir quatro temas musicais, entre os quais a balada “Love Me Tender” que acabaria por dar o nome ao filme.

Frequentemente criticado pelo aparente anacronismo da inclusão dos temas musicais, Love Me Tender  de 1956, resultou num curioso western melodramático, descendente  dos westerns musicais dos cowboys cantores Gene Autry e Roy Rogers, bastante populares durante os anos 30 e 40.

 

Loving You e  Jailhouse Rock : Elvis na tradição do género musical

 Após o sucesso de Love Me Tender, Presley protagonizou o seu primeiro musical filmado a cores. Loving You foi o primeiro filme do contrato com Hall Wallis que iria  durar até 1966.

Tal como Jailhouse Rock, produzido por Pandro Berman para a MGM, os dois filmes protagonizados por Elvis em 1957 foram concebidos como semi-biografias do cantor, utilizando alguns elementos da sua vida pessoal, para criar personagens com quem Elvis e os seus fãs se identificassem facilmente.

No entanto ao abordarem a ascensão de Elvis como cantor e ídolo adolescente desde o seu início humilde, passando pela rejeição inicial do seu estilo inovador até à conquista do êxito nos discos e no cinema, Loving You e Jailhouse Rock constroem os seus roteiros utilizando a estrutura clássica do musical backstage, um dos subgéneros mais importantes da tradição clássica do musical de Hollywood, cujas raízes remontam ao pioneiro The Jazz Singer (1927) passando por clássicos como 42nd Street (1933) e  a Star is Born (1937 e 1954).

Na verdade a recepção critica aos primeiros filmes de Elvis revelava mais sobre o preconceito musical dos críticos de cinema relativamente ás formas populares da música  americana do que de uma análise objectiva dos filmes,  que do ponto de vista temático  se integravam perfeitamente na tradição do musical clássico, apesar de introduzirem no mainstream de Hollywood um  estilo musical  distinto da  até então dominante tradição de composição de Tin Pan Alley.

King Creole  e o realismo musical

O último filme protagonizado por Elvis nos anos 50 foi King Creole (1958). Produzido por Hall Wallis e realizado pelo veterano Michael Curtiz, famoso por filmes como Casablanca, The Adventures of Robin Hood e os musicais Yankee Doodle Dandy e White  Christmas.

King Creole foi adaptado da novela A Stone for Danny Fisher o projecto inicialmente concebido para James Dean foi adaptado a Elvis, e por isso a personagem principal deixou de ser um pugilista e passou a ser um jovem cantor de um Clube Nocturno em New Orleans.

King Creole é indiscutivelmente um dos musicais mais interessantes do final dos anos 50. Utilizando a estrutura básica do backstage musical (a historia da ascensão de um jovem cantor no mundo do show business) o filme mistura elementos característicos dos filmes de delinquentes juvenis e do film noir.

Para o tom realista de King Creole contribuiu bastante o facto de ter sido filmado em exteriores nas ruas de New Orleans, onde logo na cena de abertura Curtiz utiliza um plano sequência que lembra o inicio de uma das suas obras mais importantes, o clássico  Angels with Dirty Faces de 1938. Na verdade o veterano realizador conseguiu a proeza de construir um film noir musical no qual encontramos uma mensagem de denúncia social nem sempre presente nos filmes sobre a delinquência juvenil.

Os números musicais, quase todos interpretados no cenário do clube nocturno onde a personagem de Elvis cantava, contribuem também para o tom realista do filme, incluindo os clássicos Trouble e King Creole e os excelentes Hard Headed Women , Dixie Land Rock e Crawfish,  que foram escritos de maneira a reflectir a cultura musical de New Orleans.

Devido ao seu realismo, reforçado pelos paralelismos biográficos entre Elvis e as personagens destes filmes, os musicais protagonizados pelo cantor durante a década de 50 são hoje mais valorizados pela crítica e boa parte dos fãs do que os musicais dos anos 60. É exactamente por causa destas características semi-biográficas que os filmes dos anos 50 oferecem aos espectadores contemporâneos um olhar interessante sobre o impacto social e cultural que Elvis e a música rock tiveram nessa época, dando a estes filmes um valor sociológico que foi confirmado em 2004 pela National Film Registry dos EUA ao seleccionar Jailhouse Rock para ser restaurado e preservado na Biblioteca do Congresso Americano.

 

Jorge Carrega é autor do livro: Elvis Presley e o Cinema Musical de Hollywood