“ELVIS
FASHION: FROM MEMPHIS TO VEGAS”–lançamento previsto Dez/03
-
-
Os fãs
aos prantos e multidões aos gritos parecem hoje um universo longe do
silêncio predominante em Graceland. O gênio musical nascido em uma
humilde casa de dois cômodos em Tupelo, Mississipi faleceu de uma
maneira sórdida, em meio aos destroços de sua própria fama global. O
homem que o público conhece tem uma imagem muita bem trabalhada. O ser
humano por trás desta imagem permanece de alguma maneira como um
“fugitivo”. Sua presença pode ser fortemente sentida aqui em uma
espécie de depósito para armazenagem que fica próximo a Graceland -
seu eterno lar e santuário - aonde se sente no ar o aroma de “musk”
e ao que se sabe, os documentos de uma vida excepcional se encontram
guardados. Dentre quase um milhão de artefatos de Elvis na coleção
que permanece em Graceland, 6.000 itens são artigos de roupa. No padrão
da boa costura e com extravagantes ornamentos, padrões opulentos e a
frugalidade da armazenagem genérica de bens, uma outra parte do mito
“Elvis” pôde ser discernida. Ele tinha pés grandes, por exemplo, e
até quase o fim de sua vida, a cintura estreita de um adolescente. Ele
tinha ombros largos e bem alinhados e um formato de cabeça
perfeitamente proporcional à sua altura.Que Elvis gostava de boas
roupas e tinha seu próprio estilo, é um fato conhecido por qualquer um
que tenha sido remotamente familiar com o mito.
-
Desde
sua morte em 16 de agosto de 1977, o legado de Elvis Aaron Presley como
fator determinante da cultura americana e como um ícone mundial foi
injustamente diminuído (mas anos depois, foi reconhecido e recolocado
de volta como um dos mais importantes legados já existentes na
humanidade) em detrimento de outros fatores como se ele tivesse apenas
sido a “piada em forma de lantejoulas”, um homem inchado, drogado e
que só se apresentava com laquê ou gel no cabelo pintado de preto –
escondido por trás de uma barricada fabricada por sua própria
celebridade, fama e envolto por sua própria sombra. Assim como em
outros assuntos acerca de Elvis, a realidade tende a ser sutilmente
modificada e bem mais complexa do que se imagina. Depois de décadas
guardadas em Graceland, sabe-se que uma relevante fração de seu
guarda-roupa jamais foi exibida pela EPE.Agora, as roupas de Elvis serão
conhecidas pelo público na íntegra através do livro “ELVIS
FASHION: FROM MEMPHIS TO VEGAS”, cuja publicação se espera
para o início de dezembro/2003 pela Universe Publishing. O livro marca
uma mudança na forma de ver tanto o culto como a cultura de Elvis,
abrindo seus armários e arquivos, para revelar aspectos inesperados de
um homem sobre quem é fácil sentir que tudo isso, no fundo já é
conhecido."Por anos, a Elvis Presley Enterprises teve uma
mentalidade de “fortaleza”
em tudo que se referia a Elvis Presley - disse John Strausbaugh, autor
de "E: Reflexões sobre o
nascimento da fé de Elvis”.
-
-
Por
trás do zelo sempre estrategicamente medido para proteger a imagem de
Elvis, os administradores de seu espólio podem de forma inadvertida ter
bloqueado o acesso a esta parte da memória de Elvis dentro de uma
concepção totalmente errada. O Elvis extravagante dos “jumpsuits”
era somente um personagem. Existiam outros e até mais radicais
“Elvises”. Estes “Elvises”, se não alteraram até agora certos
gostos e hábitos tipicamente americanos, serão capazes de implementar
importantes tendências culturais e espera-se que as mesmas se instalem
nos próximos 30 anos."Um dos modos realmente importantes como ele
influenciou a moda éque ele comprou suas roupas na Lansky´s"
explica Ann Powers, a curadora do evento “Experience Music Project”
em Seattle, referindo-se ao armarinho (Lansky´s) como um marco em
Memphis na década de 1950 preponderantemente voltado à clientela
negra. Ela ainda complementa dizendo que “Elvis era um homem branco
que se vestia como os negros”, da mesma forma que ele era um homem
branco adaptando a música negra ao seu próprio estilo.
-
-
Além
disto, ele era um homem excêntrico e extraordinário por ser um branco
que escolheu por conta própria o mais extravagante que havia no quesito
artigos de vestuário. Sra Powers sugere ainda que Elvis não só
ignorou propositalmente os códigos de vestimenta que caracterizavam a
segregação racial na época, como transitou livremente através dos
limites dos sexos. Não eram apenas os quadris de Elvis rodando, mas
também suas roupas rosas, sua calça comprida volumosa e seu olhar
fulminante - que os críticos não hesitaram em “clamar pela evidência
do poder que Elvis tinha para destruir a moralidade da juventude
americana”."Nós fazíamos muitos negócios étnicos naqueles
tempos, e nos negócios étnicos nós fomos em direção da alta moda
com angorás, sedas e lãs, as cores púrpuras, os “chartreuses” e o
ouro lamé," recorda Bernard J. Lansky, o proprietário de loja,
que tem 77 anos. Foi o Sr Lansky que vendeu a Elvis a famosa jaqueta de
ouro lamé em 1956, pela impressionante soma de $125. "Elvis estava
trabalhando como porteiro de cinema e em suas folgas ele costumava andar
pelas igrejas gospel ao redor da cidade para ver como as pessoas ligadas
ao gospel se vestiam", Sr. Lansky relembra. "Ele gostou do
modo como eles se vestiam. Ele sabia o que estava acontecendo. Ele tinha
bom gosto”. De fato, o designer de moda Tommy Hilfiger disse que
“Elvis era o primeiro menino branco que realmente se vestia de modo
“excêntrico” e exagerado. Ele foi um dos primeiros artistas de
qualquer raça a visualizar ele mesmo como sendo muito sensual e
Masculino". Com os seus cabelos e sobrancelhas escurecidos (a cor
natural era castanho claro), seus movimentos insinuantes e seus olhos caídos
de forma tão sexy, quase que por instinto Elvis conseguia “manipular
símbolos” e ser um precursor da celebridade moderna: o progenitor de
uma imagem cujo período de vida vem se estendendo por gerações
ligadas em sua música.
-
-
Essas
gerações até hoje fazem um poético passeio casual pelas costeletas e
as nuances de sua cintura para baixo... "Dos primeiros retratos você
pode ver ele fazendo transformações em si mesmo, e escolhendo o visual
de melhor bom gosto que ele podia achar, Sr. Strausbaugh disse.
"Ele tinha completa noção até um certo ponto - ainda que fosse
apenas intuitivamente – sobre as necessidades artísticas e a de
manipular a imagem e que aquelas roupas tinham muito a ver com
isto."Ajudou bastante, claro, o fato que desde o início Elvis
sempre amou roupas. "Meu passatempo favorito é colecionar estas
roupas tão bacanas” Elvis disse uma vez a um repórter.É “Elvis, O Mito de uma vida inteira”, que foi recuperado há 10
anos atrás do quarto de guarda-roupas em Graceland, na verdade um
quarto convertido no segundo andar, que é fechado para o público,
ajustado com armários de cedro e prateleiras de sapato forradas e
decorado com uma cama de casulo feito em pele falsificada (Elvis era
contra o uso de peles de animais) com caixas stéreo nas laterais.Esta
cama foi primeiramente para o depósito de armazenagem, mas agora está
em exibição no quarto que pertenceu aos seus pais no 1º andar da
casa, adjacente a celebradíssima “Jungle Room” com sua mobília da
Polinésia tendo chão e teto, impecavelmente atapetados. As roupas,
inclusive com as meias combinando, foram fotografadas, entraram em um
banco de dados e foram removidas para um arquivo em Graceland e seu
local se mantém secreto, para proteger uma coleção cujo valor de
mercado é inestimável. "Elvis sempre é sucesso em leilões"
disse Margaret Barrett, chefe do departamento de artes populares da
Christie´s, que vendeu uma única camisa de Elvis por US$ 29.000 em
1999. Os “jumpsuits”, Sra Barrett diz, atingiram o patamar de até
US$ 150.000 cada. "O que estas pessoas mais gostam é ser capaz de
dizer que Elvis realmente vestiu esta peça em seu corpo".
-
-
Vários
detalhes foram anotados dos arquivos que Julie Mundy - alguns
verdadeiros tesouros desconhecidos - visitou Graceland para elaborar
pesquisas para o seu livro. "Não existe muita coisa arquivada
referente ao início da carreira de Elvis, no início dos anos 50, disse
Sra Mundy, referindo-se às camisas rosas, fraques de lamé, calças
compridas que eram exageradamente folgadas a princípio e pouco tempo
depois, exageradamente justas. Uma razão para isto é que o empresário
de Elvis, Coronel Tom Parker, cortou em muitos pedaços várias destas
primeiras roupas para incluí-las como recordações em um estojo com
quatro discos contendo os big hits de Elvis dos anos 50 e que foi lançado
em agosto de 1971. Foi colocado um envelope dentro de cada estojo
contendo um pedaço destas roupas que foram cortadas" disse Todd
Morgan, Diretor de Marketing em Graceland. "Desta forma muito do
que se refere a aquela época foi perdido. Quem sabe de fato quanto do
todo que estava em seu armário quando eles juntaram isto”? À medida
que Elvis foi prosperando, seus gostos também mudaram: o “look
rockabilly” radical que ele usava nos anos 50 foi substituído por
roupas mais conservadoras ou tipicamente country no estilo anos 60.As
“roupas cafonas” que Edith Head desenhou para os filmes de Elvis nos
anos 50 e boa parte dos anos 60 deram lugar aos extravagantes
“jumpsuits” com capas de colarinhos, roupas de couro trabalhado e
todo o resplendor que ele de fato exalava, quando retomou a carreira de
shows e concertos. "Eles têm absolutamente tudo" Sra Mundy
observou em sua visita aos arquivos de Graceland. Em apenas uma visita
por lá você pode confirmar a existência de um tesouro repleto de
roupas country por exemplo, como chapéus de pele (falsificada)e botas
de couro de grife; cintos feitos com conchas; joggings esportivos e
roupas de karatê; lenços de Hermes e “jumpsuits” com gabardine,
feitos pelas pessoas que confeccionaram o famoso “jumpsuit” “Ice
Capades”. Existem também shorts para prática de esportes e fraques
de colarinho (“tuxedo”), bem como pijamas da mais pura seda; cuecas
tipo “samba-calção” e as de design padrão, comprados aos montes
pelo próprio Presley nos arredores da Sears em Memphis. E existem vários
trajes cujos estilos foram feitos pelo alfaiate Sy Devore, bem como
roupas projetadas para Elvis pelo costureiro de Las Vegas, Sr Bill Belew
– cujo estilo é o de quem jamais olharia para uma vitrine
“Gucci”, por exemplo. Seu estilo era o de trajes macios e lustrosos
e com os forros em seda moldados, acrescentando-se o detalhe dos furos
de botões notavelmente cortados e cerzidos à mão."
-
-
Ao
partir, Elvis deixou para trás uma casa, jatos, carros e motos que
muitas pessoas têm visto, de todas as partes do mundo - disse Sra.
Mundy, referindo a Graceland. Mesmo após a crise no turismo provocada
pelo 11 de setembro (Atentado ao WTC-NY), Graceland consegue mais de
600,000 visitantes por ano. Elvis também deixou para trás vários álbuns
que documentam seus concertos e seus filmes. Mas estes são apenas
registros parciais do surpreendente estilo de Elvis. "As pessoas
pensam que já viram tudo que tinha para ser visto, ou uma boa parte
disto" disse Angie Marchese, Gerente de coleções em Graceland.
Mas o retrato que a maior parte de nós temos em mente, da forma como
vimos até hoje, corresponde à um pouco mais que uma foto instantânea.“Nós
temos até botas de montar do Elvis com a sujeira de barro ainda cravada
nelas, disse Sra Marchese, abrindo uma caixa para exibir um par
empoeirado e protegido por um pano limpo. As botas, disse ela, tinham
sido recentemente solicitadas por um Museu Country para uma amostra
sobre calçados para cowbói; Contudo, o curador do Museu empacou quando
ele tomou conhecimento que as botas não poderiam ser limpas de maneira
alguma, por motivo nenhum”. "Nossa atitude é, se Elvis tocou
isto, isto tem que ficar do modo que ele deixou - Sra. Marchese
disse”. O curador não quis a responsabilidade”. Com uma luva branca
em cada mão, Sra Marchese cuidadosamente segurou por cima, uma bota
suja pelo solo agrário do Tennessee. "Isto é lama de Elvis",
complementou Sra Marchese.Este livro promete ser imperdível para todo
colecionador ávido por cada detalhe da vida do maior astro da música
de todos os tempos.
|