ELVIS NO CINEMA, OUTRAS VISÕES

por: Marcelo Neves

No mundo FANELVIS se há um assunto que leva horas de discussão, esse assunto é ELVIS no cinema! O assunto é facilmente encontrado na maioria dos grupos de discussão, foruns e chats,afinal ELVIS errou ou acertou realizando tantos filmes num espaço pequeno de tempo? É claro que não iremos "bater o martelo" com uma resposta, até porque não somos os donos da verdade. Também não iremos levantar hipóteses movidos pela emoção, a emoção entrará em outro momento! O propósito desde texto é apenas apontar outros aspectos para uma discussão. Assim como na carreira de qualquer astro tanto do cinema ou da música você vai encontrar momentos brilhantes e outros nem tanto na carreira de ELVIS. 

O cinema nasceu oficialmente no dia 28 de dezembro de 1895 com a primeira exibição em Paris pelos irmãos Lumière. Dai em diante aconteceu uma revolução cultural que só seria igualada com o surgimento do Rock nos anos 50. Alguns filmes serviram para mudar a trajetória do cinema trazendo inovações e novas tendências."Don Juan" (Don Juan - 1926) e "O Cantor de Jazz" (The Jazz Singer - 1927) foram os primeiro filmes com passagens faladas e cantadas e o primeiro inteiramente falado "Luzes de Nova York", de Brian Foy (Lights of New York - 1928). Com a sonorização estes filmes mudariam o formato do cinema a partir de então! Os filmes "Musicais" influenciados pelo teatro seriam grande sucesso nas décadas seguintes, ELVIS só apareceria 30 anos depois do primeiro filme sonoro.

O cinema trabalha com nossa subjetividade, nos transporta pelo tempo e espaço, atinge todas as classes sociais e contribuiu na mudança do homem! Alguns filmes agradaram um determinado público e torceram o nariz de outros. Alguns agradam críticos mas são ignorados pelo público e vice-versa. Alguns usam milhões de dólares em sua produção, mas logo são esquecidos pelo grande público, outros com baixo investimento realizam verdadeiras obras-primas e ficam imortalizados! O filme "Texas Chainsaw Massacre" mais conhecido como o "Massacre da Serra Elétrica" foi rodado em 1974 com baixo recurso financeiro e técnico, o "longa" tinha apenas 1 hora de duração e trazia cenas de extremo terror. A história era simples, um grupo de estudantes saindo para se divertir quando são perseguidos e assassinados por um psicopata! A crítica não poupou palavras tirando qualquer qualidade do filme, mas o que se viu foi um estrondoso sucesso do filme que acabou se tornando um cult! Com o sucesso deste filme as produtoras investiram em várias produções semelhantes como, Sexta-feira 13, A hora do Pesadelo, Noite Alucinante, todas elas com no mínimo 3 seqüências.

O cinema americano quando descobre uma formula de sucesso, a usa até sua exaustão! Dai teremos exemplos clássicos como: Rocky parte I, II, III, IV, Rambo parte I, II, III, Sexta Feira 13 parte I, II, III, IV, V... O mesmo exemplo teremos em se tratando de gênero. Quando o filme "Esqueceram de mim" estourou nos EUA logo teve sua seqüência e vários filmes semelhantes onde apenas se trocava o ator principal. Nota-se também as tendências que algumas décadas se caracterizaram: os anos 20 pelas comédias, os anos 30 pelos "grandes musicais", os anos 60 pelas críticas sociais etc. O cinema conforme os anos foram passando começou a identificar o perfil de seus "usuários", quais eram as pessoas que gostavam de terror, de comédia, de ficção e assim por diante. Com este perfil traçado, a estratégia de marketing era melhor direcionada. Um exemplo clássico é a saga Star Wars onde uma série de produtos é direcionada para um  público alvo e para isso não é medido esforços. 

E com ELVIS PRESLEY? Será que a formula era a mesma que outros astros? Será que seguiu uma tendência ou criou uma? ELVIS explodiu no mundo em 1956 por causa de sua música e um estilo que atraiu milhões de jovens. Pela primeira vez Hollywood percebeu que era possível gerar dinheiro com o Rock e não perdeu tempo em fechar contrato com Coronel Parker. O filme "Love me Tender" (1956) lançou o rapaz de Memphis num novo desafio em sua carreira, o de agradar em cena! O filme agradou seus fãs e foi um sucesso de público, ELVIS ingressou no mundo do cinema e mudou os rumos de sua carreira. Logo vieram Loving You (1957) e Jailhouse Rock (1957)... Este último considerado por muitos como o primeiro clipe de Rock! Uma inovação até então! Em King Creole (1958) finalmente a crítica já começa olhá-lo de outra forma, porém com ressalvas. Neste filme prova que tem potencial para se tornar um grande ator e investir mais neste novo segmento. 

Após servir o exército e voltar triunfante à América, ELVIS lança mais um filme retratando justamente um tema militar, G.I. Blues (1960). Sucesso de bilheteria e de vendagem de discos, ELVIS percebe que havia chegado para ficar e que os anos de exército não afetaram sua imagem, a não ser de roqueiro rebelde, agora visto como "bom-moço". Este "novo" ELVIS agradou a maioria, mais uma vez a estratégia de Marketing do Coronel funcionava tornando ELVIS ainda mais rentável como ator! Até ai nada de errado, fazer com que seu produto gere lucros é a função de qualquer empresário e o Coronel nisso era competente. Em Blue Hawaii (1961) ou Feitiço Havaiano no Brasil, foi um divisor de "águas" na carreira filmografia do Rei. Começa a partir dai a conhecida "Fórmula Elvis", detestada pelos críticos, amada pelos fãs. O filme fez tanto sucesso que a trilha sonora foi a mais vendida em toda a década de 60! É justamente a partir deste filme que surgiram indagações do tipo: "acertou ou errou?"! Muitos livros, revistas, sites retratam este período como turbulento na carreira de ELVIS, e foi em alguns momentos. Se tudo fosse um "mar de rosas" talvez ELVIS nem teria voltado a cantar ao vivo ou fazer novas turnês! Mas como classificar este período que vai de 1961 à 1969? Para uma análise mais abrangente e imparcial é necessário levantar aspectos positivos e negativos deste período. Até mesmo os "negativos" tiveram efeito muito positivo na história de ELVIS com o passar dos anos. Para se entender isso devemos conhecer o que foi a "Fórmula Elvis". A "formula" estava no formato do longa metragem assim como os papéis interpretados por ELVIS. Em sua maioria girava em torno de um "rapaz" cercado de garotas, sempre se enfiando em brigas e cantando algumas canções (tirando algumas exceções). Esta repetição de papeis  irritou a crítica que não media suas palavras para criticá-lo. Em Viva Las Vegas (1964) as coisas pareciam terem mudado, ELVIS recebeu vários elogios por sua atuação assim como a participação de Ann Margret, depois as críticas voltaram com a mesma intensidade. Se de um lado a crítica torcia o nariz, os filmes eram sucesso em vários países. A estratégia do Coronel era fazer de ELVIS um sucesso e assim o fez. Mas a repetição dos papéis tirou a chance de ELVIS mostrar todo o seu potencial, algo que ele tinha de sobra, visto que nunca estudou teatro ou cinema para interpretar! Apesar dele gostar do cinema, sentia muita falta dos palcos, isso fica claro quando questionado em New York (coletiva do Madison Square Garden - 1972) o motivo de seu retorno em grandes shows: 

"...foi porque sentia falta deles. Sentia falta do calor humano, da vibração de um público agitado. Por isso, logo que me desfiz dos contratos de filmagens tornei a fazer novamente apresentações ao vivo!"

Na mesma entrevista revelou seu interesse em escrever roteiros ou participar de um filme que não precisasse cantar! Ficando claro que seu desejo era fazer o contrário do que estava fazendo.

Os filmes nos anos 60 tiveram um fato curioso, ao mesmo tempo em que levava a imagem do ídolo e sua música a todo o planeta, também o afastava de seu público impedindo que se apresentasse ao vivo! Nenhum filme teve prejuízo ou foi fracasso de bilheteria, até mesmo quando não havia verba suficiente o Coronel aparecia e resolvia, exemplo "Tickle Me" (1965). Porém a "fórmula" estava incomodando o próprio ELVIS, algo que ele não escondia. Ele tinha senso crítico e era bastante imparcial. Quando acabou de filmar "Stay Away, Joe" (1968) disse:

"...analiso meus erros quando faço um retrospecto dos meus filmes. Vejo um montão de coisas que gostaria de mudar. Quero melhorar nas telas. Em todos eles ouço sempre alguém dizendo como fazer isso ou aquilo, Garotas estão no meu encalço. Rapazes estão atrás de mim. Agora não quero mais saber disso. Em "Stay Away, Joe" represento um pele-vermelha astuto e criativo. Acho que pode ser um sinal de melhora nas produções. Neste papel quem vai atrás das mulheres sou eu e não fico como antes, à espera tranqüila de que caiam sobre mim. Na maioria dos filmes passei cantando em quase todas as cenas, mas neste canto só um pouquinho, representando muito mais dramaticamente. Não se vê guitarra em minha mão por toda a fita"

Apesar das críticas os filmes motivaram o surgimento de novos fãs pelo mundo, incluindo no Brasil! São comercializados em todo o mundo em vários idiomas. Se tornaram tão populares do que muitos clássicos de Hollywood. Independente se foram "grandes produções" ou não, hoje os fãs podem assistir 33 filmes e matar sua saudade. Se até hoje o assunto é motivo para debates e discussões, deve-se ao fato de sua importância na cultura atual, as pessoas querem entender o sentido de tudo isso no passado, para elaborar um novo sentido no presente. Os que viveram na época de suas exibições podem cruzar uma ponte para o passado, onde é possível recordar um tempo que jamais voltará. Um tempo em que para ser feliz não era necessário  tanta tecnologia ou dinheiro, o mundo era menos complicado e as coisas simples da vida tinham muito sentido. Ok, o mundo também melhorou em muita coisa, hoje temos a internet, o avanço da medicina etc. Mas jamais iremos ligar o rádio e escutar...

"...Olá amigos da nossa querida rádio, ELVIS PRESLEY está com um novo filme em cartaz chamado "Carrossel de Emoções"! Escreva para nós e concorra a um LP com a trilha sonora, participe!

... simples não é? É aqui que a "emoção" começa... como num simples filme de ELVIS PRESLEY!

Texto: Marcelo Neves