JORGE CARREGA

 

 

Jorge Carrega defendeu uma tese de mestrado sobre a carreira cinematográfica de Elvis. O fruto deste trabalho vai resultar num livro que será lançado em Portugal. Conseguimos uma entrevista com o autor para termos uma prévia deste trabalho e conhecer os fatores que levaram o autor a pesquisar sobre o tema.

ET - Olá Jorge! É uma grande satisfação nossa fazer esta entrevista com você! Antes de falar do livro, nos conte como Elvis entrou na sua vida?

 JC- Olá a todos os fãs brasileiros do Elvis. É com muito prazer que dou esta entrevista ao clube Elvis Triunfal.

O Elvis entrou na minha minha vida aos nove anos de idade. Foi na tarde do dia de Carnaval de 1983 e lembro-me que nesse dia assisti na TV ao filme Fun In Acapulco, que captou a minha atenção pela cor, pela história e claro pela música, em especial a cena em que o Elvis cantou Bossa-nova Baby. Apartir dai fiquei atento aos filmes do Elvis que passavam na TV e mais tarde já adolescente comecei a procurar os discos do Elvis.

 ET- Por que fazer um livro sobre a carreira cinematográfica de Elvis?

JC- O meu interesse pela carreira cinematográfica do Elvis surgiu como resultado natural de duas paixões: a carreira do Elvis, que considero um dos maiores artistas performativos de sempre, e o cinema clássico de Hollywood, em especial o estudo dos géneros cinematográficos.

Por isso foi com naturalidade que escolhi como tema da minha tese de mestrado a carreira cinematográfica do Elvis e em particular o seu contributo para o cinema musical de Hollywood.  

Apresentei a ideia à minha orientadora, a Professora Mirian Tavares, que por acaso é brasileira, e felizmente ela percebeu imediatamente o potencial que este tema poderia ter.

Penso que os filmes do Elvis são pouco valorizados e merecem ser analisados numa perspectiva histórica e estética para que possamos compreender o seu papel na indústria de cinema de Hollywood e o modo como eles reflectiram a sociedade e o público que os produzia e consumia.

Depois de fazer algumas adaptações ao texto da Tese de Mestrado, de modo a tornar a sua leitura mais agradável para o público em geral, procurei uma editora, o que não foi fácil, mas felizmente encontrei na HM Editora, o interesse e o apoio que este projecto merece, pois acredito que muitos fãs do Elvis gostariam de conhecer melhor a carreira cinematográfica do seu ídolo.

ET- Em sua opinião quais foram os pontos positivos na carreira cinematográfica de Elvis?

 JC- Não tenho duvidas que o Elvis foi primeiro cantor Global (e com isto quero dizer, famoso em todo o Mundo) e acredito que isso só foi possível porque a máquina de Hollywood soube divulgar a música e a imagem carismática do Elvis através do cinema.

É preciso lembrar que durante os anos 50 e início dos anos 60, a televisão estava a dar os primeiros passos na maioria dos países ocidentais. Por outro lado, as condições económicas eram bem diferentes e a venda de discos era bastante inferior aos dias de hoje, isto para não falar que as editoras tinham uma capacidade de distribuição limitada. Pelo contrário, a máquina de produção de Hollywood, tinha uma rede bem mais eficaz e permitia levar o Elvis aos quatro cantos do Mundo.

Na verdade, em cidades pequenas de países como Portugal era bem mais fácil e barato ir ao cinema ver e ouvir o Elvis do que comprar um disco. E claro, essa era a única forma que muitos fãs tinham de ver o seu ídolo.

 ET- Quais foram os pontos negativos?

 JC- Penso que o grande problema foi que em meados dos anos 60 a carreira discográfica do Elvis ficou demasiado dependente dos álbuns com as trilhas sonoras. Na verdade tal como tento explicar no meu livro essas gravações não são tão más quanto alguns críticos musicais defendem, mas a maioria delas só fazem sentido quando escutadas no filme, ou pelo menos se a pessoa que as escuta viu esse filme. É claro que algumas canções ultrapassam essa limitação, mas a maioria segue a tradição do cinema musical de Hollywood. Basta pensar quantas canções da trilha sonora de West Side Story ou The Sound of Music fazem sentido fora do filme? Poucas!

Infelizmente muita gente acusa Hollywood pelo facto de Elvis não ter gravado mais álbuns de rock durante os anos 60, mas essa responsabilidade é mais do Coronel Parker e do próprio Elvis.

 ET- Qual foi a melhor produção da carreira de Elvis e por que?

JC – Existem vários filmes interessantes na carreira do Elvis. Por um lado Jailhouse Rock, pela qualidade musical e a oportunidade de vermos o Elvis  dentro do estúdio a gravar com os seus músicos originais. Por outro lado King Creole tem um bom argumento, um excelente trabalho de câmara do grande realizador Michael Curtiz, uma trilha sonora interessante e talvez a melhor interpretação dramática do Elvis, mas Flaming Star é também um bom filme, em que o Elvis foi muito bem dirigido pelo Don Siegel. E é impossível esquecer Follow That Dream, uma excelente comédia na qual o Elvis dá a sua melhor interpretação cómica.

 ET- Qual você acha de menor qualidade e por que?

 JC- A resposta mais evidente seria os filmes produzidos por Sam Katzman, Harum Scarum e Kissin Cousins, pelo facto de apresentarem valores de produção bastante fracos. No entanto por incrível que pareça, Harum Scarum é redimido pela sua sensibilidade Camp, pois deve ser visto como uma paródia a um certo tipo de filme de Série B, popular nos anos 40 e 50. É claro que esta película não é para todos os gostos, mas é na minha opinião mais interessante do que filmes como Paradise Hawaiian Style, Clambake e Speedway, que apresentam histórias repetitivas e pouco interessantes, interpretações frouxas e trilhas sonoras fracas.

 ET - Você acha que Elvis foi injustiçado como ator?

 JC – Penso que sim. Elvis tinha potencial para ser um bom actor dramático mas teve poucas oportunidades para desenvolver as suas capacidades. No entanto é injusto que não se reconheça o seu talento para a comédia ligeira, bem evidente nas comédias musicais, em especial no já citado Follow That Dream, mas também em G.I Blues, Blue Hawaii, Viva Las Vegas, ou Tickle Me, entre outros.

 ET - Qual a melhor parceria de Elvis no cinema?

JC- A maioria dos fãs diria que foi com Ann Margret em Viva Las Vegas. Concordo que foi uma parceria muito boa, não só pelo talento de Ann Margret mas também porque existia uma química evidente entre os dois actores/cantores, que na época tinham uma ligação romântica.

No entanto actrizes como Tuesday Weld, Barbra Stanwick e Mary Tyler Moore também foram boas co-protagonistas, isto para não falar de actores como Mickey Shaughnessy em Jailhouse Rock, Arthur O’ Connell em Follow That Dream, Walter Matthau em King Creole, ou Ângela Lansbury em Blue Hawaii, que valorizaram bastante os filmes e as cenas que protagonizaram com o Elvis.

 Também não podemos esquecer a parceira de Presley com os realizadores Don Siegel e Michael Curtiz, que foram responsáveis pelas melhores interpretações do Elvis.

 ET- É muito raro encontrar cenas excluídas ou erros de gravação dos filmes, você conhece algum, só com sobras de filmes dos anos 50 e 60?

JC- Sei que existe o final original de Love Me Tender e alguns erros de gravação (outakes) que foram incluídos no dvd do livro Inside Love Me Tender, que é, bastante caro e difícil de encontrar. Existem também outakes do filme Jailhouse Rock e é provável que nos arquivos da Fox existam a cena em que Elvis canta “Summer Kisses Winter Tears”, que foi excluída de Flaming Star e  uma cena que Elvis gravou para Wild In The Country em que cantava “Lonely Man”. Ocasionalmente ouve-se rumores sobre algum material deste tipo mas não é provável que existam muitos outakes, uma vez que os estúdios tinham problemas de armazenamento nos arquivos e deitavam fora tudo quase tudo o que não fosse o negativo original e a cópia de segurança do filme. Não quero com isto dizer que seja impossível encontrar mais material deste tipo, mas seria necessário um exaustivo trabalho de investigação nos arquivos da Paramout, da MGM e Twentieth Century Fox.

No entanto vale a pena lembrar que existe algum material filmado nos bastidores de G.I Blues, Blue Hawaii, It Happened At The World’s Fair e Roustabout, que seria interessante ver incluído nos making off destes filmes.

Acredito que grande parte do material por descobrir pertence aos documentários: Elvis That´s the Way It Is e Elvis On Tour, em particular este ultimo, pois existem registos de que o Elvis gravou uma longa entrevista para o filme e da qual muito pouco foi utilizado. É evidente que essa entrevista filmada teria hoje um valor histórico imenso. Defendo por isso que o restauro do Elvis On Tour deveria ser prioritária para os fãs do Elvis e que as EPE juntamente com a MGM e a Warner deveriam investir todo o dinheiro necessário para que isto pudesse acontecer, de preferência convidando Martin Scorcese para liderar o projecto.

Pessoalmente não me preocupo muito com os outakes, penso que o mais importante é sensibilizar os estúdios para que iniciem o restauro dos negativos originais e garantam a sua correcta preservação. Esse trabalho vai ser fundamental se quisermos que os filmes do Elvis continuem a ser vistos ao longo do século XXI pelas novas gerações que vão crescer com a alta definição.

Se o processo de restauro for iniciado, acredito que as cenas excluídas e os outakes que existirem serão encontrados. 

ET - Elvis achou confusa a história de "Live a Little, Love a Little". Você sabe de outras opiniões que Elvis teve de outros filmes?

 JC- Pelo que eu sei, o Elvis achou os argumentos de Girls! Girls! Girls! Spinout, Paradise Hawaiian Style, Clambake e Speedway, fracos e pouco originais.

 ET - Raquel Welch fez uma ponta em Roustabout. É verdade que ela ignorou essa participação?

 JC – É provável. Não esqueçamos que Raquel Welch se tornou uma grande estrela e deveria ter sentido algum embaraço por ter sido apenas uma figurante nesse filme. Ela apareceu em duas cenas e não disse uma palavra.

 ET - Hoje muitos atores só são lembrados por terem participados de um filme de Elvis. Em sua opinião, qual deles é o maior exemplo disso?

 JC – Penso que o melhor exemplo é a Dolores Hart, que participou em Loving You e King Creole, sem duvida os seus filmes mais vistos. No entanto actores como Mickey Shaughnessy que foi co-protagonista em Jailhouse Rock e Joan Blackman que participou em Blue Hawaii e Kid Galahad, são conhecidos essencialmente pelas suas participações nos filmes do Elvis.

ET - Na gravação de Kissin Cousins, há um casal que cai no chão durante uma dança, mesmo assim a cena ficou no filme. Por que não foi cortada a cena?

 JC – Provavelmente porque Kissin Cousins foi um filme que toda a gente quis terminar bem depressa. Tratava-se de uma produção de Série B e o realizador Gene Nelson deve ter pensado que não valia a pena perder tempo e gastar película por causa desse erro.

 ET - Qual era a atriz preferida de Elvis nos filmes?

 JC-  Ann Margret e  Shelley Fabares. 

 ET - Havia alguém de quem não gostasse?

 JC- É sabido que o Elvis teve um ligeiro desentendimento com Gig Young, com quem trabalhou em Kid Galahad, pois não gostava da maneira como ele tratava a sua namorada, a actriz Elizabeth Montgomery.

 ET - O filme sobre Karatê não aconteceu, por que?

 JC – Penso que se deveu aos problemas pessoais que o Elvis atravessava nessa período da sua vida. No entanto o facto do Coronel Parker não ter apoiado o projecto também contou bastante, pois tratava-se de um documentário em que o Elvis participaria apenas como narrador e isso tornava mais difícil arranjar um estúdio que fizesse a distribuição do filme. Por este motivo o Coronel achou que seria um projecto financeiramente arriscado, e como todos sabemos o Coronel só se preocupava com lucro fácil.

 ET - Qual a grande cena de Elvis em sua opinião?

JC- Do ponto vista musical “Jailhouse Rock” é uma cena extraordinária, verdadeiramente icónica, que revela a essência do Elvis. Do ponto de vista dramático penso que a cena no gabinete do Director da escola em King Creole é um bom exemplo do seu talento.

 ET - Qual filme personifica melhor o Elvis e que ficará na memória de todos?

 JC – Jailhouse Rock e King Creole permitem que tenhamos uma boa ideia de quem foi Elvis Presley, da época em que viveu e do impacto que causou.

 ET- Quando o livro será lançado?

 JC – Se tudo correr como esperamos será lançado no final de Maio ou início de Junho deste ano. 

ET - Como os fãs poderão adquiri-lo fora de Portugal?

JC – A  HM Editora está  estudando a possibilidade de distribuir o livro no Brasil, mas caso isso não se concretize os fãs brasileiros podem comprar o livro na loja virtual da HM Editora em www.hmeditora.com que envia encomendas para todo o mundo.

  ET - Deixe uma mensagem aos fãs brasileiros!

 JC- O objectivo deste livro é ajudar os fãs do Elvis a compreender melhor os filmes do cantor, colocando-os no contexto histórico da produção cinematográfica de Hollywood dos anos 50 e 60.

Espero que gostem e que depois de o lerem vejam os filmes do Elvis com um olhar diferente.

  Jorge Carrega