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ARTIGO: ESTOU FARTA

 

AUTORA: CÉLIA MARIA PLÁCIDO SANTOS

Sempre que acabo de ler uma obra sobre Elvis, embora os subtítulos prenunciem um texto imparcial, fico com uma sensação de que os autores, invariavelmente, não entenderam o fenômeno Elvis Presley. Podem até ser pesquisadores sérios - alguns o são - mas, como entendedores do que se passou na alma de Elvis, mostram-se ineptos. 

Sabem? Não agüento mais ler uma determinada crítica feita, por exemplo, a uma interpretação musical do cantor e, indo verificar por mim mesma (agora temos os vídeos não somente a audição dos discos) deparo-me com uma discrepância entre o que foi dito e o que se ouve ou o que se vê... E não venham eles dizerem que isto é conversa de fãs histéricas, que também já está superado este argumento pela sua infantilidade.

 

Portanto, confesso-lhes que estou me cansando de ler sobre Elvis.

 Parece-me, amigos, que, ao fim e ao cabo, a maioria dos autores vê E.P. através do olhar de seus preconceitos internos, asseverando parágrafos e mais parágrafos na condição de julgadores, não se apercebendo no papel de envolvidos nas questões todas de seu julgamento. Esclareço. A psicologia aí está a nos demonstrar que o olhar com que vemos o outro vemos, em última instância, a nós mesmos, pelos mecanismos internos de projeções, espelhamentos.  Ora, hoje o nosso chamado "lado sombra" está por demais estudado e compartilhado com o amplo público leitor para que se faça tão brutal quanto ingênua crítica à vida do artista em questão, achando-se os autores isentos nos julgamentos e como donos da verdade. 

 

Também questiono se estariam equivocados tantos pareceres críticos sérios de milhares de admiradores da obra de Elvis até hoje. Cada vez mais se descobre, neste artista notável, facetas novas de um desbravador, de um inovador em tempos de marasmo e preconceitos que norteavam a cultura social e musical dos Estados Unidos, àquela época, e a subversão podemos dizer, arrebatadora, dessa "moral de cuecas" que repercutiu nos quatro cantos do mundo. Tudo isso obra de um filho de sulistas pobres daquele país. Imperdoável, para alguns...

 

Causa-me espécie também, leitores, (ou mesmo revolta) a forma como usualmente se referem à sua vida pessoal. Desde galhofas à teimosia em condená-lo em quesitos que só diziam respeito e ele mesmo. Causa-me menos espanto que indignação um discorrer de fatos relativos à sua intimidade de modo a querer - nos parece - diminuí-lo em sua imagem, sem se cogitar que o detrator (ou detratora), caso estivesse em seu lugar, agiria, por certo, de maneira bem pior... Ah, claro, eles sequer ousam colocar-se em sua pele...

 

Muito mais cômodo (para não dizer covarde) é ficarem os "pesquisadores" a escarafunchar os aspectos menos relevantes de uma vida esplendorosa, ele, enredado que ficou nos apelos todos da fama, um ser que era por demais puro, simples e desprovido de maldade e que viu-se, inesperadamente, envolvido nos enlaces mesquinhos de interesseiros, aproveitadores, bajuladores, que "existiam" somente devido a...Elvis!

 

Ora, eu entendo que até seria de se admirar mais este artista pois, apesar de tantos dramas pessoais, foi capaz de transcendê-los na oferta ao mundo de uma  arte inigualável, que influenciou gerações de músicos, intérpretes, artistas. O mal que fez, se assim podemos interpretar, fez somente a si mesmo...

 

Curiosa e paradoxalmente, hoje vêem-se roqueiros, artistas e escancararem a todos os ventos seu lado, digamos, menos nobre, bem como as ridicularidades todas de sua personalidade "excêntrica" e, ainda assim - ou por isso mesmo - serem endeusados e  ovacionados com heróis. Isto sem falarmos em seus duvidosos talentos... Dois pesos, duas medidas.

Caro leitor, talvez como você, eu ouço Elvis quando estou alegre, e agradeço a ele a oportunidade em tê-lo conhecido; quando a tristeza se apossa de meus sentimentos, ponho um bom blues cantado por ele e ele traduz  as emoções de uma maneira  tão tocante que a dor se torna atraente e fértil. Assim, de geração em geração, aquela voz continua a nos acalentar, a  nos empolgar, a nos traduzir, a nos identificar, a ponto de quase não acreditarmos que tenha existido alguém assim...

Quando assistimos a este show-man que viveu na segunda metade do século anterior, parece-nos - como já foi observado por alguém -  que as imagens são de hoje. Sua performance é espontânea e inovadora, porque se estabelecia ao sabor do momento, e sua voz, claro, ainda está à espera de um concorrente.

Então, amigos, estou farta desses autores.

 

Acho que doravante só lerei as entrevistas de Elvis;  buscarei o que se acha escrito nos fãs-clubes; só irei às apresentações dos covers que o admiram e o perpetuam através de um trabalho sério e comprometido com a causa Elvis Presley. Deverei ir urgentemente a Graceland.

Para encerrar, eu que já estou á beira de um  estado de mau-humor por causa dos supostos  escritores-pesquisadores-imparciais, acabo por me lembrar das palavras de George Klein; " - Se você é fã de Elvis, não é necessário explicar; se você não é fã de Elvis, nenhuma explicação é possível."

Esteja em paz, Elvis. Nós zelamos por você.

 

Célia Maria Plácido Santos.

Membro do fã clube Elvis Triunfal